segunda-feira, 28 de março de 2011

Pânico no Parque


Crianças correndo, pipocas estourando, balões coloridos subindo para o infinito. Nada como um parque de diversões. Encontro amigos, abraço-os; conheço novas pessoas, abraço-as, sempre procurando fugir do assunto quando o mesmo é a Montanha Russa; definitivamente não é para fracos, eu sou fraca, mas não devo demonstrar isso; aceito o convite. Risos, gargalhadas, brincadeiras. Estranho como a fila pareceu andar rápido, sento-me num dos carrinhos da "tão temida". Começo a suar frio, meu coração dispara, temo ter uma premonição ou algo do tipo, felizmente, não tenho. Sobe-desce, sobe-desce. Ouço gritos, provavelmente os meus são os mais desesperados; já nem vejo quem está do meu lado, na verdade, não vejo mais nada, meus olhos não se abrem a algum tempo. A adrenalina toma conta de mim, e sem que eu perceba minha volta chega ao fim, e o incrível é que por mais assustador que tenha sido eu acabei gostando, queria estar ali de novo. Frequentemente acontece isso comigo, deve ser meu carma, ficar remoendo experiências traumáticas, ansiar por tê-las novamente, "querer estar presa por vontade" a algo que não me faz bem. De qualquer forma, já tenho meu bilhete, e não vejo a hora de chegar minha vez, uma próxima volta, próximos altos e baixos, eu preciso disso, nem que seja uma última vez.
Little J.

terça-feira, 22 de março de 2011

Pós


Depois da tempestade o que resta são galhos quebrados e muros caídos. Depois de uma longa corrida o que fica são os calos nos pés e as queimaduras do sol no seu rosto; raramente você é o vencedor. Depois de uma alta aposta o que você leva pra casa é o prejuízo por ter perdido e a vergonha pelo fracasso; a aposta parecia tão vantajosa quando você a fez... Depois de uma longa viagem de ida a volta parece tão curta. Depois das chamas ficam as cinzas. Depois do choro vem os olhos inchados. Depois do abraço vem a dor da partida. O próximo passo depois do início é o fim, e depois do fim nem sempre você tem forças para a tentativa de um recomeço. E finalmente, depois de um grande amor, o que nos resta não é nada mais que um coração partido. Em milhares de pedaços.
Little J.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Predadores


Está escuro. Está frio. Estou com medo. A noite parece interminável, nenhum mísero raio de sol anuncia o amanhecer. O uivo dos coiotes me lembra que tenho companhia indesejável por perto. Estou sentada agora, apoiada no caule de uma árvore qualquer, meus pés já doem por andar em círculos por horas. Sei que pode parecer que estou perdida, mas não estou; eu quis estar aqui, só não imaginei que terminaria dessa forma, quer dizer, era pra ser um belo passeio pelo bosque num dia ensolarado, mas se transformou numa caminhada sombria em uma noite vazia. Se eu sabia dos perigos ao enfrentar o desconhecido? Sim, é claro, mas achei que quando chegasse a noite eu teria a mão de alguém pra segurar, uma voz no meu ouvido dizendo que daria tudo certo. Tola! Parece que ele foi mais esperto que eu, pegou sua trilha e foi pra casa, me lançou as feras do jeito mais covarde... A noite continua, meus companheiros coiotes parecem ter se acalmado, a lua cheia muda vagarosamente sua posição, eu permaneço na minha. Ninguém veio me procurar ainda, ninguém sentiu a minha falta, nenhuma voz clama meu nome na escuridão. Pela primeira vez sinto-me verdadeiramente sozinha, mas a escolha foi minha, foi minha vontade estar ali, e agora tenho que encarar as consequências, por mais dolorosas que elas sejam, é obrigação minha enfrentá-las, e sobreviver a elas. Enfim, um pequeno raio de sol faz nascer uma ponta de esperança em mim. Me sinto melhor, o frio e o medo se dissipam lentamente; pareço mais forte com o amanhecer, mas ainda estou sozinha, continuo sendo só uma menina frágil cercada por predadores. Será que um dia alguém vai sentir minha falta?
Little J.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Parada Final


Passos e conversas me despertam. Levanto-me da minha poltrona, pego minha bagagem e saio do vagão em meio a uma multidão eufórica; pessoas se abraçam, riem, choram, eu pareço ser a única indiferente. Todos me olham sem surpresa, como se meu rosto fosse familiar, mas tudo aquilo era estranhamente confuso para mim, algo não estava certo. Teria eu desembarcado na estação errada? [...] Avisto algo de qual vagamente me recordo, um banco de madeira branco, já amarelado e desgastado com o tempo; sento-me. Passam-se alguns minutos, minha mente procurando entender o que eu fazia naquele lugar, aonde eu estava, afinal? Começo a olhar os pequenos detalhes do banco no qual eu me sentara; vejo um nome, o meu nome, letras disformes, obviamente escrito com alguma ferramenta amadora, talvez uma chave ou algo do tipo, passo a mão levemente sobre a poeira depositada na tinta quase totalmente descascada, mais abaixo havia um outro nome, e uma data. Tudo começa a fazer sentido, me recordo daquele lugar, das pessoas que agora, entre idas e vindas, parecem já não notar minha presença; a data do meu embarque, aquele o qual me acompanhava, onde ele está agora? Não faz sentido me abandonar de tal forma, sem explicações, apenas me deixando um nome e uma data; tão longa viagem não chega a sua parada final dessa forma. Resolvi esperar por respostas, mas só acumulo mais e mais perguntas. Ainda não sei qual o sentido em esperar aquele que não me prometeu voltar, mas se um velho banco é tudo que me resta, permanecerei ali, mas não para sempre, espero. Quem sabe um dia me canso de ficar presa a nada mais que recordações e embarco num próximo trem.
Little J.